quarta-feira, dezembro 21, 2011

Natal dos Miseráveis


A tristeza de assistir uma cena como essa, de uma cidadã catando comida no lixo enquanto a cidade comemora o nascimento de Jesus. Apelidados de ‘Burro Sem Rabo’, centenas de pessoas passam o dia a catar lixos, arrastando uma carroça, pra o mercado de reciclados. Maior parte vive nas ruas, com expectativas mínimas de melhoras em condição de vida. - O que sentiria e o que faria Jesus diante cena como essa ?!...

Domingo, 18dez11, Maceió foi invadida por pequenos ‘arrastões’ em diversos locais da cidade, uma avalanche de jovens, em grupo, por um determinado tempo em uma determinada região avançam surrupiando tudo que lhe interessa das pessoas, das lojas, de tudo e todos que tiverem no caminho, depois partem em disparada, carregando o que podem pegar. Durante a semana passada foram incendiados três ônibus coletivos, por reação dos traficantes. Um amigo chamado Leo refletiu o seguinte: “302 milhões de reais - Esse foi o resultado do arrastão dos Taturanas na Assembléia de Alagoas. Se pode ver vários desses ladrões circulando por aí de Land Rover, em restaurantes finos, ou passando umas férias remuneradas como conselheiros do TC. Isso inspira e muito a bandidagem rafamé alagoana, que, enquanto não chega lá, brinca de um arrastão aqui, toca fogo num busão acolá”...

Pras consciências.

Feliz Natal.

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sábado, novembro 26, 2011

Serra da Barriga / Dia da Consciência Negra


Tive de repente a impressão de sentir a presença de Zumbi, tamanha felicidade da aura imaculada naquele lugar. Quando diante a escultura do grande mártir da luta contra o escravismo no Brasil, tendo ao seu lado uma pequena ancestral, herdeira da liberdade conquistada. - Zumbi vive ! - Na Serra da Barriga, berço da resistência negra, o maior, mais duradouro e mais organizado quilombo das Américas, onde viveram mais de 30 mil pessoas, por quase um Século. Até que, em 1695, o Quilombo dos Palmares foi dizimado e Zumbi assassinado no mesmo ano. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1986, como Patrimônio Histórico.

Eis a que estamos aqui, mais de 400 anos depois, assistindo o movimento da resistência que persiste, com o sangue pulsante, do DNA dos rebeldes que insurgiram essa nobre causa. Está estampado nas feições, nos perfis, na cultura, na religião e na voz desse povo guerreiro; outrora em navios negreiros, engaiolados, sofridos e humilhados, trazidos na marra para o trabalho escravo. No passado, aqui no topo dessa montanha, estrategicamente, encontraram o refúgio e hoje a paz e o amor. 

“Neste cenário original da luta, em 2007, foi construído o Parque Memorial Quilombo dos Palmares – uma espécie de maquete viva, em tamanho natural, instalada em um platô, no alto da Serra, para onde milhares de pessoas acorrem, principalmente, em 20 de novembro (Assassinato de Zumbi), quando se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra” (serradabarriga.palmares.gov.br/?page_id= 96)

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sábado, novembro 19, 2011

Cultura alagoana da calçada estacionamento

Transformou-se uma verdadeira cultura, numa regalia descarada, praticada por todos os motoristas de Maceió: essa mania de estacionar seu automóvel sobre o passeio público. Em especial a calçada do supermercado Unicompras do Farol, por onde passo todos os dias, por onde vejo passarem centenas de pessoas, se espremendo pelas grades poeirentas do estabelecimento (quando os motoristas mais delicados os permitem) ou se arriscando pela via dos autos, sujeito a quedas e até atropelamentos, no mínimo chateação e humilhação. Não tenho mais nada pra dizer, é ver pra crer. Detalhe, entre as fotos tem um automóvel da SMTT estacionado na calçada, esperando o carona voltar de uma pequena compra no supermercado, no fundo da foto vê-se vários automóveis cruzados na calçada. E Você pensa que eles se incomodaram, quando indagados por mim, ou se quer os multou em minha consideração de cidadão reclamante ? Hummmm. Lancharam, ligaram o motor e foram embora. Tá ou não tá liberado esse convívio desumano ? Não existe lei para isso ? Estes motoristas não têm mãe ? Filhos ? Amigos paraplégicos ? Só têm olhos pras suas necessidades cômodas ? Não será essa ação criminosa ? Quando é que essa mania vai acabar ? Nunca ?!..
Fotos de celular LCB

Cultura alagoana da calçada estacionamento

Cultura alagoana da calçada estacionamento

Cultura alagoana da calçada estacionamento

Cultura alagoana da calçada estacionamento

quarta-feira, novembro 16, 2011

desinspirado...


Essas questões trabalhistas enchem o saco por sua mesquinhez. Dediquei-me por 5 anos a um periódico* de Alagoas, 3 com carteira assinada. Pois bem que lá eu já não mais cabia, então veio minha demissão, em março de 2011.

Durante a primeira parte do processo indenizatório foi marcada uma reunião no Sindicato dos Jornalistas, onde houve uma conversa, para mim franca, entre o advogado da casa, o adjunto da contabilidade do periódico e eu. Na sala estavam dois sindicalistas, que de algum modo assistiram a toda negociação. 

Pois bem, quero salientar que fico com o coração partido, pois nesta empresa quero bem a todos e sei que também sou muito querido. Mas só me pagaram uma parte da rescisão, na reunião no sindicato, dia 23 de março, e até hoje ficam me levando na conversa. Falou-se de que eu receberia um piso da categoria cada mês que não fechassem o acordo e que pesaria ao periódico os ônus trabalhistas aos meses inerentes. E nada aconteceu até agora. 

Praticamente todos os meses eu liguei para a pessoa que comigo negociou, e todos os meses sempre a mesma conversa: “É o pessoal do grupo que ainda não repassou, mas vamos ter uma reunião e eu colocarei seu caso como prioridade”. E nada. - Será que ficam esperando que entremos com recursos jurídicos ou que então esqueçamos ?

Amigos e parente me aconselham entrar com processo na justiça, na vara das “Pequenas Causas”. Confesso que me sinto como um tolo, rodeado por um sistema viciado, rotineiro, desgastante, cheinho de pessoas que sempre querem ser mais espertas que a gente. Acho que a culpa disso é do Estado (Nação) que não fiscaliza, nem cobra. É da Lei que não impõe. Alguns amigos que já passaram por processos parecidos falam que eles esperam que entremos na justiça e apresentam um ‘acordo’. Confesso que eu sinto nojo disso.

Ainda estou a refletir se bato ou não na porta da Justiça, para através dela reivindicar meus direitos; ou se acredite que o pessoal do periódico por esses meses cumprirão o acordado. É triste para mim, encarar essa situação. Tenho a todos como amigos, mas estou já achando que não sou visto com os mesmos olhos que vejo, com os mesmos sentimentos que sinto, com a seriedade que talvez eu mereça.

Será isso a utopia ? Ou o ralo da pia ? que sofia ? Fi-lo !


Foto: Paulo Lopes (Operant) 2008dez19

domingo, setembro 18, 2011

Desabafo do silêncio de um alagoano



A miséria em Alagoas é explícita demais. Dói na alma o cotidiano da Capital, Maceió. Não sei como se fala bem ainda desse lugar. Está por todo canto, pelas ruas da cidade, crianças sujas nos sinais, sub-existência deplorável na beira da laguna, os Sem Terra invadindo e ocupando as legítimas praças do Povo (Porque não ocupam aquele belo estacionamento do palácio do governo ?), lixo e esgoto a céu aberto, até na bela praia à luz do dia. A educação no convívio é rara de gentilezas, em um trânsito insuportável, em que os pilotos agridem-se e aos outros. A população acomodada se acostumou a essa rotina. Parece que está tudo desandado. Isso aqui não evolui. As calçadas, cheias de vendedores, entulhos de obras e tocos de placas arrancadas, não poderiam ficar de fora: viraram definitivamente estacionamentos. Não se respeita mais o pedestre. Além dos raios causticantes do sol e a cidade não se entende com o verde, muito mal arborizada. O caos de um lugar que tem seu IDH entre os piores do mundo, daí vem a invasão do crack, disseminado vertiginosamente em quase todo lugar da Terra, denegrir ainda mais a dignidade desse Povo. Lembro de Maceió da minha infância, que inda menino andava pelas ruas da cidade livremente, brincava nas praças, tomava banho nas praias, brincava na rua... Tinha muita pobreza, mas miséria assim tinha não... Do sonho do menino a dormir dá é dó e indignação, perante a realidade que estamos vivendo.


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segunda-feira, agosto 29, 2011

PONTO DE PARTIDA

 
 
 


Isso não é uma regra absoluta. Costumo aplicar uma técnica de ver o personagem sempre de frente, na ‘linha dos olhos’, o olhar na mesma altura. Chegando a esse ponto observo a luz, o cenário, os outros elementos que pertencem aos limites das dimensões captadas pela lente e pelos recursos oferecidos pela câmara. Para esse segundo ‘ver’ costumo também ficar atento a ‘linha do horizonte’, pois percebo que quando esta linha não é bem aplicada, a perspectiva perde o sentido do equilíbrio, - É claro que possa enviesar propositalmente ! Mas certamente ver-se-á um estilo. - afora isso é amadorismo. A consciência do enquadramento exige do fotógrafo um deslocamento contínuo. Mais pra cá, mais pra lá, pra cima, pra baixo, sobe aqui e desce acolá, tudo isso pela sensibilidade do saber ver. Nossa consciência enxerga, na postura bípede, uma linha imaginária de equilíbrio do corpo, vertical; e nossos olhos em uma dimensão horizontalizada.

Falo dessa técnica porque percebo principalmente nas crianças, que são vistas sempre ‘de cima’, uma acomodação quanto a esse deslocamento, quanto a olhar realmente o quadro a que se propõe: Primeiro, ver de frente. Depois observar a luz, a paisagem, o ambiente, a expressão, enfim, se é pra fazer, é melhor fazer bem feito.

Esses registros são do Folguedo ‘Guerreiro Campeão do Trenado’ (Chã da Jaqueira), durante comemorações do Dia do Folclore, no dia 21 de agosto de 2011, na ‘rua fechada’ na Praia da Ponta Verde, promovidas pela Fundação Municipal de Ação Cultural. (Contato: Mestre Nivaldo (82)9107.4345).

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segunda-feira, julho 25, 2011

O carcará

 

O Carcará não é tão guerreiro como uma águia, nem tem a ‘aura felina’ do gavião, mas também não é tão covarde quanto o urubu. Parente distante do falcão, espécie nativa do Brasil, “não é um predador especializado, e sim um generalista e oportunista alimentando-se de insetos, anfíbios, roedores e quaisquer outras presas fáceis; ataca crias de mamíferos (como filhotes recém-nascidos de ovelhas) e acompanha os urubus em busca de carniça”*.


Carcará**
João do Vale
Composição: João do Vale / José Cândido


Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará


*  http://pt.wikipedia.org/wiki/Carcar%C3%A1
**  http://letras.terra.com.br/joao-do-vale/46538/



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sábado, julho 16, 2011

Do caos a lama


A beleza da simplicidade está na felicidade de estar viva a superação de qualquer outro apego, senão a família e os amigos, diante a energia que pulsa a vida, que determina a sintonia ínfima do prazer que emana da vontade de viver, ou sozinho integrado harmonicamente à essência vital. A tristeza não é triste, desde que por um momento, envolto a ásperas condições existenciais, se esboça um riso.

Sorri
Composição: Charles Chaplin / G. Parsons / J. Turner – Versão: Braguinha

Canta: Djavan

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

Smile

http://www.vagalume.com.br/djavan/sorri.html#ixzz1SGyWX7eB

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domingo, junho 19, 2011

Os Catadores do Lixão


Às vezes chego à conclusão que determinadas imagens dispensam qualquer palavra, nem o título ter algum nome. Em linguagem plena de informações, através da ambiência, do clima, do aspecto conjuntural, dos personagens, no sentido da visão, da ótica em raciocínio, a composição desfecha no ápice em que o silêncio do momento se revela ao abrir e fechar da cortina do obturador, no instante do clique. Certo de que há uma nítida expectativa quanto a excelência da palavra, cabendo perfeitamente todo e qualquer estilo de signos paralelos, porque permite a meditação, agregando o simbolismo do inconsciente, criando e determinando tendências, vertentes, cercando o fato, vislumbrando o imaginado. Certo de que se pode dizer tudo, ou qualquer ruído, de todo percebido. Sim, mas até então, por todo conhecimento do que se trata essa composição, ainda não inspirava uma só palavra sobre essa foto aqui apresentada e por efeito da proposta do blog, de ‘fotos comentadas’, adentrei por essa reflexão. Então copilei informações de sites e blogs sobre o fato ocorrido, fiz um resumo, e intitulei.

Resumo da Mídia: O antigo 'Lixão de Maceió', com 40 anos de funcionamento, foi desativado um mês depois em que essa série fotográfica foi captada, no dia 30 de abril de 2010, com a inauguração do Aterro Sanitário de Maceió, que funcionará pelos próximos 30 anos, num terreno de 140 hectares na região do Benedito Bentes. Foram 'catalogados' 326 catadores de lixo (e desses, o acréscimo de suas respectivas famílias), que serão orientados pela prefeitura a buscarem outras fontes de renda, já que não têm mais o lixo para catar.

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terça-feira, junho 14, 2011

Das responsabilidades do Fotojornalista


Com uma imagem podemos contar mil estórias ou entrar pra História por presenciar um fato único e ter a impressionabilidade de captar o enredo; no dia a dia o repórter fotográfico transpira isso o tempo inteiro, é uma profissão à flor da pele, que requer disposição, sensibilidade, criatividade, coragem, determinação, esperteza, raciocínio fílmico, amor à profissão e vontade de fazer. Junte tudo isso ao conhecimento antropológico e sociológico, história da arte, planejamento gráfico, semiótica, geometria, ótica, cinema, fotografia, enfim, além do conhecimento técnico dos equipamentos, é no olhar deste profissional onde habita a singular poética das comunicações.

A maioria dos repórteres fotográficos raciocina em imagens, linguagem imagem; ao invés de letras e palavras, perguntas e respostas, rabiscos, busca informações na aura do ambiente, no espectro de luz, nas linhas, nos corpos, na profundidade de campo, no detalhe (cores, perspectivas, coisas, contraluz, movimento, etc.), tenta, incansavelmente, traduzir o intraduzível, retratar o irretratável, fazer casar perfeitamente o conteúdo do texto do companheiro jornalista com a imagem captada. Das lentes as imagens que marcam a História do cotidiano que se vive, que se viveu, a certeza da presença, o fato puro, que pulsa e sangra, eterniza, detalhadamente, a realidade detida no flagrante.

No labirinto das cidades vaga atentamente, - deve ter plena consciência de seu papel social, de interlocutor da vida em seus fatos mais marcantes. - suspenso no silêncio da visão, deve ter o melindre no senso humano de ver, distinguir os fatos, ter ética e ser fiel à retratação do que se é sugerido pela pauta, mas não deve deter-se apenas a esta, pois a vida está ali, ao redor, à caminho, na inspiração, deve permitir-se vislumbrar da criatividade, ousar absurdidade, agir com a alma em chama, com o coração em brasa, na faísca do clique e na carburação da respiração; flutuar com o vento; subir nas antenas e montanhas mais altas; sucumbir ao chão; ter o sangue frio de ver a morte de frente.

O principal valor do produto deste profissional é, sem dúvida alguma, o de informar. Mas quando essa informação caduca, então emerge o valor intrínseco das questões históricas, que agradecem tamanha riqueza de material, do jornalismo impresso. A informação mais precisa, com fatos contados entre o texto em letras e as imagens dos momentos congelados, diariamente, como agente pertinente da autenticidade da notícia, o repórter fotográfico se destaca por sua postura de efeito propagador, pois entre as letras não se enxerga em três dimensões e na perspectiva ótica no instantâneo se enxerga. Em ambas, palavras e imagens, a magnitude transborda na essência prima do amor ao esvaecer.

sábado, junho 11, 2011

Pelas ruas da cidade


Essa loja fica no Jacintinho, bem numa curva de acesso à Ladeira do Óleo, eu sempre que passei por ali achei pelo menos ‘original’, essa dupla exposição de roupas: em manequins, novas, à venda; e no varal, usadas, enxugando. É bem inusitado esse atrativo à clientela, e há um aspecto de melhor visibilidade para as roupas estendidas. A presença do estrangeirismo também chama a atenção: Jeyssy. Pura criatividade. Linguagem popular, arte popular, bairro popular, moda popular. Essa gente brasileira, que aos trancos e barrancos encontra sempre um jeitinho, a partir de um conhecimento e da força de vontade, de poupar-se de dependências funcionais, através de muita dedicação e trabalho, para ter tão grata alforria trabalhista, conquistando autonomia.

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sábado, março 19, 2011

O direito de sonhar


Ainda com minha Nikon F3, brincado com os filhos. Meu Deus, o que está programado para o futuro dessas crianças ? Que covardia da humanidade ! Que mundo é esse ?!... Por um lado a humanidade perdida, um poder perverso desconexo e desarmônico. Da indústria do petróleo ao latifundiário dos pastos. Dos padres tarados e dos pastores corruptos. Da televisão pública chula. Da música popular pornográfica. Da banalização das relações. Do político corrupto na política do lobismo. Das catástrofes da natureza. Do calor excessivo. Das águas poluídas. Das péssimas previsões pro futuro. Terremotos, tsunamis, aquecimento global; guerra atômica, química, biológica e civil; o crack, o big brother brasil, o trânsito, o egocentrismo, o alcoolismo deliberadamente estimulado. Enquanto isso eles crescem, essas crianças, acordam todos os dias pensando a quantos dias estão do fim do mundo. A paz, a poesia, o amor, a moral, o pensamento, os sonhos, a liberdade, estão em baixa. A paz nem se fala, vivemos uma única aventura nos cotidianos, guerra civil inconsequente. A poesia, o amor e a moral foram substituídos pela linguagem chula dessa música pornográfica, o viagra e as trepadas acadêmicas; por essas novelas intimistas da televisão, e os pais e filhos sentados diante a vida assistindo, juntos na sala, a isso tudo. Daqui também incluo a liberdade, pois vemo-nos obrigados a conviver com esses excessos. O pensamento é a lavagem cerebral desse poder. Mas os sonhos, os sonhos, esses não. Não podeis, ó meu Deus, tirar, dessas crianças com expectativas tão negativas, a vontade de se planejar, de crescer, de criar sua própria família. Os sonhos não, meu Deus !... Os sonhos nunca.

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quinta-feira, março 17, 2011

Inútil Paisagem


Inútil Paisagem
Milton Nascimento
Composição: Tom Jobim/Aloysio de Oliveira

Mas pra que
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra que
De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem

Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais
De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada
É nada
É nada

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sexta-feira, março 04, 2011

A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores...


Sinto, ao longo dos anos, que a poesia está à mercê da realidade urbana, cruel do espírito automobilístico. A cada dia percebo mais e mais o descaso com a aura dos sentimentos mínimos da pureza da alma humana. Sinto vontade de chorar, de gritar, de chutar e expulsar todos aqueles automóveis ocupando o espaço público da Praça Sinimbu. Sinto vergonha pelo mestre Lourenço Peixoto, quando vejo sua obra completamente destruída. Escombros da poesia que outrora inspirou tantos artistas, poetas e enamorados. Não consigo entender onde queremos chegar com tamanha desigualdade social. Com tamanho descaso ao próprio habitat. Não me importo aqui com outros lugares da Terra, não me venham com exemplos de lugares piores, me indigno com meu próprio ninho, e o nada que posso fazer, senão me indignar ! Não se vive mais a cidade, se vive os automóveis ! Não se caminha ! Não se passeia ! Praticamente não se ouve mais o cântico dos pássaros, só o vruuuummmmmm dos motores egocêntricos.
 
E o mijãozinho ! Roubaram a escultura (em bronze) do mijãozinho ! Oh, Lourencinho (como minha mãe carinhosamente o chamava), desculpe-nos. Que catástrofe ! Na época em que foi roubado não vi qualquer ação do poder público em recuperá-lo ! Aliás, não vejo qualquer ação do poder público que não seja em benefício da luxúria e da glória quântica (financeira) do enriquecimento de si mesmo. Será esse entrave a peleja entre os deuses (bons) contra os diabos (maus), e os maus assumiram de vez o poder ?! - Pior, em nome de deus ! - Não há mais sossego e a ‘paz’ é só mais uma palavra em vão, como a ‘liberdade’ também. O amor é sexo de viagra. A paixão os bens. A poesia, a exemplo maior na Música Popular Brasileira, vai da linguagem chula à atitudes pornográficas. É triste para alguns e é subliminarmente magnífico para a grande maioria equivocada. Ter atitude nesse universo pernóstico, contra as rudezas das ações degradantes, é uma obrigação dos pensam e os que pensam são bem poucos.

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terça-feira, março 01, 2011

Asas pra que te quero !


O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes, Concluiu uma oficina de avaliação do estado de conservação das aves brasileiras. Avaliaram espécies da Caatinga e algumas de distribuição mais ampla. No total, foram analisados 103 tipos diferentes de aves. Uma – a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) – foi considerada extinta na natureza; duas criticamente em perigo; nove em perigo; cinco vulneráveis; sete quase ameaçados; nove com dados insuficientes e 70 em situação menos preocupante (Fonte: http://www.nejal.com.br/Noticia750.htm). Essa cultura de se criar pássaros em gaiolas é ridícula ! De qualquer tipo. De qualquer espécie. Fora de época, insensível. É fácil encontrarmos criatórios na internet totalmente legalizados pelo IBAMA, é como as drogas: os criadores de pássaro insistem em que os passarinhos criados em cativeiro são legais, é a mesma coisa de se dizer, como a televisão diz o tempo inteiro, que a bebida alcoólica não é droga, que é o sumo da felicidade, enquanto sabemos que ela deixa a pessoa ‘muito doida’ e a maconha, pasmem, para quem só a consome, pelo contrário, só relaxa, mas qual é o grande problema da maconha ? Por ser condenada à ‘droga ilícita’ seus consumidores se vêm obrigados a se relacionarem com os traficantes, como nos passarinhos, pois se cria um mercado com valor expressivos, que vão, um curió por exemplo, de 500 reais à 5 mil reais (os premiados não têm preço, chegam a valores irreais), num mercado aberto, criados em gaiolas e viveiros, cativeiros, enquanto isso, além de também sentirem o mesmo prazer de criar, aquele sujeito ‘lascado’, que vive lá no campo, percebe uma chance de se prevalecer, capturando da natureza e agindo igual ao traficante de maconha, pois só existem tais mercados graças aos consumidores e criadores. O mau da maconha certamente não é o seu efeito relaxante e introspectivo, é o tráfico que tá por trás dela. Já não basta tão pouca mata para os passarinhos viver. Não se enxerga que o mundo de hoje não é o mesmo mundo do século XIX. Que no século XX houve um processo degenerativo do Meio Ambiente, supervalorizando-se a tecnologia, o auge da Revolução Industrial. Que o momento é de se refletir cada ação sobre todo ecossistema. Que como os pássaros hoje, amanhã podem vir a ser o Alimento. Não há providências diante os agressores mais fracos, nem punição aos agressores mais fortes ! Tudo que se faz é superficial, todos comungados só prezam por seus status-quo ! - E o futuro de seus próprios filhos, se alimentarão de óleo e graxa, junto as máquinas !? - Nos dói pensar que não existirão mais azulões, nem curiós, nem sete-cores, entre tantos animais, livres, como Deus os criou, de tão inofensivos que são. Além de toda vegetação nativa devastada, lhes tirar a magnitude das asas, os limitando às gaiolas e assim dizer que eles adoram ! Acho que são essências da mentalidade escravocrata. Processo da ruindade que habita na alma humana. Perversidade sociabilizada.

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domingo, fevereiro 20, 2011

Bóias-frias

 

Essas fotos foram tiradas de dentro do automóvel, a cinquenta quilômetros por hora, por uma estrada de barro. De passagem, no reflexo repente de percepção e atitude, presença de espírito e vontade de fazer. Da ação imediata do bóia-fria, articulando com as mãos, e a do fotojornalista, que habilmente, com todo balanço e movimento do automóvel, percebe, mira e dispara uma série de cliques. Há uma simpatia clara. Dizendo: ‘tou vendo você !’, ‘ói eu aqui !’, ‘oi !’ – Uma interação do personagem com o Universo. A partir da divulgação do quadro, exibida publicamente para toda cadeia global da internet, mostrando a arquitetura do improviso, com a utilização de materiais do ambiente, do talo e das palhas da cana de açúcar, pela necessidade de sombra, onde os capinheiros pausam para as refeições e descanso. Gente do mundo.

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domingo, fevereiro 13, 2011

Deus dá o frio. E o freio conforme a lona


A cultura de Submundo, que persiste sobreviver sobre a miséria explícita, não deve ser conduzida ao novo Milênio que vivenciamos. Temos a obrigação de “organizar a casa”, vivemos uma nova Era, entre conflitos herdados de um sistema social urbano democrata, após o extermínio pleno dos sistemas menores, que foram devorados e esquecidos, e com eles suas culturas. Para nós que trabalhamos com a imagem no Jornalismo, que temos como profissão registrar as realidades mais distintas, em quadros pincelados ao vivo, adentramos as grotas, as favelas, o lixão, o riacho de esgotos, o trânsito caótico; subimos as mais altas antenas, os morros, nos jogamos ao chão, pulamos muros, cercas e poças, fincamos diante o olho do furacão o mais rico documento da Humanidade: seu arquivo fotográfico. Diante nossos olhares um pouco de tudo do mundo. Diante nossa coragem, a realidade pulsa em informações nítidas da perplexidade complexa das relações humanas. Diante nossas câmaras, mais que puras imagens, a sensibilidade da autoria traduz sem palavras o contexto das informações. Como se fossemos a ‘infantaria’ das Comunicações, avançamos para um digladio franco, e nos deparamos sempre entre os pólos que definem as desigualdades. Na pobreza acho que se tem alguma dignidade, numa pobreza com a da família do ex-presidente Lula. Mas na miséria, a que vive tanta gente brasileira, não. É triste assistir crianças convivendo com esgoto a céu aberto, pisando, pegando, caindo, acordando e dormindo com o cheiro daquela calda ladeando os corredores entre as barracas construídas de resto de materiais encontrados nos lixos. Um povo que não tem o que vestir ou o que comer, mas pasmem: quase todos têm televisão no lar (se assim podemos chamar: lar), e assiste a toda luxúria e putaria que as emissoras públicas transmitem, numa existência que nada lhes condiz. Há de se criar nessa realidade indignações plenas, do âmago dela e de tantos que se sensibilizam por tal realismo. Até quando ? Deixaremos para as próximas gerações tais responsabilidades ? Haverá novas gerações ? – O reflexo da realidade se depara entre os limites dos opostos, o belo e o feio, o rico e o miserável, o cético inoperante e o poeta revolucionário, enquanto as causas e os efeitos dessa evolução amargam-nos na má qualidade de vida. Vida !?... Será tudo isso um sonho de um Deus ? Que o beliscão que me dou não me dói, não sinto ? Tá tudo escrito nas estrelas ? A miséria ninguém merece. Nascer na miséria é um castigo impiedoso. Dizem algumas religiões que faz parte das intermediações espirituais, outras dizem tantas coisas, falam de infernos e carmas, argumentos que tentam explicar o inexplicável. No mundo tudo está virado de cabeça pra baixo, valores invertidos. Lamentável, meu caro Watson, lamentável. Taí nas ruas, plena guerra civil. E não é outra coisa, senão a desigualdade, a mola que impulsiona tamanha violência urbana. Taí a cocaína estendida aos 4 cantos do mundo, como refrigerante, como pó estimulante, como pedra degradante e como folha suficiente. Taí a bebida alcoólica, destruindo famílias, pessoas, vidas, por uma realidade fútil e egocêntrica, fervilhando no caldeirão de mentiras repetidas, estimuladas por esse Kapitalismo quântico, por um liberalismo vulgar que destrói a ética, pisa sobre a moral, joga no lixo as tradições e valoriza a canalha, o banditismo, a pornografia e a alienação de massa. Como dizia o pára-choque de um caminhão: “Deus dá o frio. E o freio conforme a lona”.

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