segunda-feira, agosto 23, 2010

O que será, será, do seu amanhã, será.


Há dois meses atrás essas pessoas não eram flageladas, moravam humildemente em suas casinhas, decentemente, tanto que as crianças parecem não terem perdido da alma a fantasia do universo lúdico. Percebe-se que elas não nasceram na miséria. Pobres, a pobreza fica um pouco acima da miséria, e miséria é esse estado a que vivem hoje, como ‘flagelados de cheia’. A enchente, em efeito tsunami, levou as casas com toda mobília e pertences, deixando-os a depender de donativos. É triste perceber o descaso, diante ações que deveriam ser emergenciais, para com pessoas tão ordeiras, cidadãos que nasceram ali, famílias de raízes centenárias. Esse caso, como tantos outros, não trata especificamente de uma transição apenas de lugar, trata-se de gente que perdeu por completo sua identidade. Pra descrever tamanho sofrimento cito um trecho de Patativa do Assaré: “Tudo sofre e não resiste/ este fardo tão pesado,/ no Nordeste flagelado/ em tudo a tristeza existe./ Mas a tristeza mais triste/ que faz tudo entristecer,/ é a mãe chorosa, a gemer,/ lágrimas dos olhos correndo,/ vendo seu filho dizendo:/ mamãe, eu quero morrer!”.

É triste assistir, bem diante nossos olhos, uma mãe assim viver. Tendo seu filho surtado com o acontecido, há um mês está interno num hospital psiquiátrico, e o marido também surtado que passa mal quando vê sua família naquele estado, se refugiando num sítio de amigos. Dona Maria do Socorro, firme, sem desistir de dar a volta por cima, persiste, convivendo naquele abrigo insalubre com pessoas que nunca houvera sequer visto antes, bêbados e viciados em crack, outras famílias como a dela, muitas crianças, velhos e cachorros, tudo para proteger o pouco dos bens que pôde salvar da enxurrada e ao mesmo tempo por temer não estar presente em momentos importantes de cadastramentos, doações ou qualquer oportunidade para sair dali. Ela no dia 18 de junho de 2010 acordou para um pesadelo que parece não ter fim. A inexistência de expectativas, com promessas por demais prolongadas, sem lenço e sem documentos, sem parentes importantes, a mercê principalmente do poder público e aqui e ali da ajuda de pessoas e grupos sensibilizados. Dois longos meses vividos numa amargura ardente, numa angústia intermitente, sem saber o que fazer.

E o que pensam as crianças que estão vivendo essa tragédia, o que marcará em suas vidas, terão seus caminhos desvirtuados ? De príncipes e princesas, tornar-se-ão flagelos do futuro ? Um entrave em seus destinos. A elas o governo deve a dignidade. Assisto a campanha eleitoral e me dói no coração perceber o derrame de dinheiro público e privado, os discursos mais fajutos, a mentira escancarada diante realidades tão alarmantes. Poderiam eles, todos os candidatos, investirem seus esforços e interesses para o bem comum, mas não, não é isso o que vemos, não é isso o que acontece. Entra governo e sai governo e nada muda. Enquanto essas elites da mamata pública continuam com o enriquecimento lícito da corrupção oficializada, a exemplo o Estado de Alagoas, a miséria, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisas e Estudos Aplicados), atinge 1/3 da população, 32,2%. Refletindo o acontecido, em pelo menos 9 cidades alagoanas, possa hoje esse índice permear os 40% da população. Copilando à reflexão o Barão de Itararé: “A pessoa que se vende sempre recebe mais do que vale”. Pense nisso ao votar ou vote nulo simplesmente.

LCB_2010ago18